sexta-feira, 6 de novembro de 2009

(Inclusão Digital) Projetos só mudam de nome


Em março deste ano, o Governo publicou no Diário Oficial da União o decreto que constitui a coordenação nacional do Casa Brasil, um projeto que reúne todas as iniciativas governamentais de inclusão digital. O problema é que as idéias por trás do Casa Brasil têm circulado desde 2003, sem nada concreto. Antes deles, projetos com nomes diferentes já existiam, sempre no papel.

É uma situação similar ao que ocorre com o projeto do PC Conectado, um computador popular para pessoas de baixa renda. O conceito não tem nada de novo. De acordo com informações da Agência Brasil, o projeto Casa Brasil de agora quer estabelecer as diretrizes e os critérios de seleção das localidades que serão beneficiadas com recursos federais, além de acompanhar a implementação.

O presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, Sérgio Amadeu, considerou o decreto como o reconhecimento que a inclusão digital deve ser uma política pública relevante. O Instituto é o maior parceiro do governo no PC Conectado, adiado pela terceira vez em apenas três meses.

Elves Alves

É preciso focar o crescimento social (Inclusão Digital)


Pensadores como Manuel Castells, um dos ícones nos estudos sociais a partir de novas tecnologias, pondera que a sociedade está passando por uma revolução informacional que pode ser comparada às grandes guinadas da História. Na clássica trilogia “A Era da Informação“, o autor é enfático em mesclar economia, cultura e informação a partir de uma inclusão digital de verdade.

Muitos imaginam que, em países pobres, não se deveria nem falar em inclusão digital enquanto há pessoas com fome e desempregadas na rua. O problema é que são as nações pobres as quais, justamente, costumam se beneficiar melhor das ações includentes.

Mark Warschauer, professor na Universidade da Califórnia e integrante do Centro de Estudos em TI e Organizações (CRITO, do inglês), descreve que em países como o Brasil, a inclusão digital precisa ser acentuada com mais prática e menos teoria.

O pensamento é compartilhado por William Mitchell, autor do livro E–Topia, que também se dedica a estudar o impacto social via inclusão digital. “Comunidades de baixa renda tendem a atrair menos investimentos em infra–estruturas de telecomunicações e tecnologias, gerando menos motivação de empresas e governos. Em lugares assim, há um risco óbvio de diminuir ainda mais as ofertas de bons empregos e serviços para todos daquela comunidade,” enfatiza Mitchell, em um cenário bastante conhecido no Brasil.

O professor Adilson Cabral, doutorando em Comunicação Social e estudioso do tema, considera até impreciso utilizar o termo inclusão digital atualmente, porque não mostra à sociedade o contexto social envolvido na questão. “Preferimos a idéia de apropriação social das tecnologias de informação e comunicação (TIC), cuja relação direta é a tomada de consciência e cidadania nas comunidades”, explica.

Texto parafraseado por Elves Alves